terça-feira, 16 de setembro de 2008

O golpe e o gol

Por Roberto Vieira

A Bolívia nos recorda de cinco em cinco minutos:

A América do Sul é uma imensa casa dos espíritos.

Há 35 anos, o espírito de Salvador Allende sobrevoa o Estádio Nacional do Chile.

Há 35 anos, Allende foi assassinado no La Moneda.

Há 35 anos, a seleção chilena foi a campo vencer o nada. Marcar um gol no estádio do terror.

A América do Sul é uma imensa casa dos espíritos.

Passarela erguia a Copa do Mundo?

Jovens morriam nos cárceres de Videla.

Pelé driblava Mazurkiewicz?

Médici exultava nos braços do povo.

Cubillas assombrava os búlgaros?

Velasco Alvarado censurava Vargas Llosa.

O futebol ocultava os porões do terror.

Tudo traduzido nas veias abertas por Eduardo Galeano.

Escritor, exilado e apaixonado por futebol.

Ou quem sabe, no Manual do Idiota Latino Americano?

Fica ao critério de cada um.

Quem imagina a casa dos espíritos sul americana um jogo de um time só, engano.

É um jogo que sempre termina 0 x 0.

O regime que o argentino, dublê de goleiro e torcedor do Rosário Central Che Guevara desejava instalar nas selvas de Evo Morales passava longe da democracia.

(Che que era fã de Di Stéfano e pediu autógrafo ao seu ídolo no restaurante La Saeta Rubia em Bogotá)

A guerrilha brasileira lutava por liberdade. Para instaurar uma ditadura.

O ouro da CIA era igual ao ouro de Moscou.

Os cem anos de solidão de García Márques não enxergavam o outono do patriarca jogando baseball.

O continente dos maiores jogadores de futebol do planeta permanece uma grande Liga Pirata.

Uma gigantesca casa dos espíritos.

A terra do golpe e do gol...

Nenhum comentário: