quarta-feira, 1 de outubro de 2008

Du Fu

Segue abaixo uma tradução que fiz, há muito tempo, para um poema de Du Fu. Vale lembrar, toda uma tradução é sempre uma traição - as duas palavras possuem uma mesma raiz etimológica. Consultou-se o texto no chinês, com o auxílio de um bom dicionário, e uma versão em inglês do poema.

Canção das carroças

"As carroças ribombam e afluem, os cavalos relincham furiosos,
os soldados marcham com arcos e flechas em seus cintos.
Parentes, esposas e crianças correm para vê-los partir,
A fumaça que eles levantam esconde até a ponte Xianyang.
Eles vestem suas roupas e fazem seu caminho, barrando o choro,
mas este atinge diretamente as núvens do céu.
Um transeunte pergunta "Por quê?" a um soldado,
e ele responde que este recrutamento acontece com freqüência.
"Aos quinze, vários foram enviados para o norte para proteger o rio,
então aos quarenta são enviados até os campos do oeste.
Quando nós fomos para longe, os ancestrais olharam por nossas cabeças,
retornando com as cabeças brancas, fomos enviados para a fronteira.
Lá, não é água que corre no rio, mas sangue,
pois não há limites nas guerras e ambições do imperador.
Não percebe que, nos distritos ao leste das montanhas,
nascem árvores com espinhos nos mil vilarejos?
Mesmo que hajam mulheres fortes para agarrar a enxada, ir para o arado
e colher, não há ordem no campo.
Além disso, nós, soldados de Qin, lutamos a pior das lutas,
sempre sendo conduzidos como se fôssemos cachorros ou galinhas.
Um senhor pode me perguntar isso,
mas e um soldado? Pode se atrever a reclamar?
Mesmo nesse tempo de inverno,
soldados do oeste não param de passar.
O magistrado está ávido por impostos,
mas como podemos pagar?
Agora, ter garotos é ruim,
enquanto ter garotas é o melhor;
pois as garotas podem ser casadas com os outros,
enquanto os garotos são enterrados junto à grama.
Você não viu a fronteira de Qinghai,
os esqueletos dos homens que ali se juntavam?
Os novos fantasmas estão furiosos com a injustiça, os velhos fantasmas choram,
e uma chuva escura do céu negro caí nas vozes que urram"

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