Acordara.
Na verdade, não havia conseguido dormir.
Os pensamentos se faziam e desfaziam nele, como ondas a se formar e quebrar.
A companhia de tais pensamentos era agradável.
Não o era para o sono, mas para todo o resto.
Havia visto algo que o forçara a ficar de olhos abertos. E, apesar de onipotente, nem ele consegue dormir de olhos abertos.
Mesmo que quisesse fechar os olhos, não poderia. Pois eles já estavam completamente entregues à visão.
Paradoxalmente, não se sentia obrigado a ver. Ao contrário, era prazeroso.
Prazeroso o suficiente para fazê-lo levantar da cama e vestir uma muda de roupas velhas, suas favoritas.
Vestido, acendeu sua vela favorita. O ambiente ficou perfeito, pois a vela lhe trouxe suas inseparáveis amigas, luz e sombras.
Com passos preguiçosos, dirigiu-se a cozinha, para encher uma taça com o seu vinho favorito.
Uma vez acompanhado e munido de seus preciosos instrumentos, sentou-se à mesa.
Espalhados na mesa, vários papéis amassados. Esteve perturbado nas últimas noites.
Pois queria impor as letras ao papel, que, sabiamente, rejeitou-as.
"A obra não espera pelo lazer do artista, mas força é que o artista acompanhe o seu trabalho, sem ser à maneira de um passatempo", disse o papel.
Foi quando Ele entendeu porque esteve perturbado.
Os últimos seis dias o deixaram um pouco rabugento.
Tanto que tentou impor as letras ao papel.
A lixeira próxima à mesa estava cheio de imposições fracassadas.
Mas isso não o incomodava. Ninguém é perfeito.
Ele sorveu o vinho e coçou carinhosamente o queixo.
Milagrosamente, o pensamento se articulou.
A ocasião propícia apareceu.
Tudo começou a fazer sentido.
A velha máquina de escrever sorriu.
Foi quando Ele escreveu o mundo...
terça-feira, 16 de setembro de 2008
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